sábado, 23 de abril de 2011

Controle de Qualidade em Processamento de Soja

REVISÃO DA LITERATURA

A qualidade da proteína da soja é limitada por vários fatores, dentre eles a deficiência em aminoácidos sulfurados e a presença de substâncias antinutricionais, que podem modificar o metabolismo normal de animais monogástricos.
Entre as substâncias que produzem estes efeitos prejudiciais, destacam-se os inibidores de proteases (antitríptico), as hemaglutininas (lectinas), os compostos fenólicos (taninos), as antivitaminas, as saponinas e os quelantes de metais.
Os antitrípticos são proteínas, que quando presentes no trato intestinal prejudicam a digestão protéica levando a um aumento na produção de enzimas pelo pâncreas, com conseqüente hipertrofia deste órgão. Os prejuízos ao desenvolvimento do animal serão inevitáveis (LIENER & KAKADE, 1980).
As hemaglutininas também são proteínas que possuem em suas moléculas um centro ativo específico à combinação com carboidratos, e portanto, capazes de aglutinarem seletivamente eritrócitos, e interagirem com as células da mucosa intestinal, prejudicando o processo de absorção e contribuindo para a toxidez dos grãos de leguminosas (LIENER & KAKADE, 1980).
Os taninos têm habilidade para se complexarem com proteínas, o que interfere na utilização nutricional das mesmas, levam a lesões no trato intestinal, e podem bloquear o sistema digestivo (LIENER, 1981).
Antivitaminas são compostos que diminuem ou eliminam o efeito de vitaminas, de modo específico (SOMOGYI, 1973).
As saponinas são substâncias que causam ruptura dos eritrócitos “in vitro” (LIENER & KAKADE, 1980), e quando incorporadas ás rações de aves, causam retardamento no crescimento destas.
Os quelantes de metais ou fitados, existentes nos grãos de cereais, complexam-se com metais, alguns indispensáveis à alimentação, diminuindo a disponibilidade destes e aumentando seus requerimentos pelos animais (DURIGAN, 1994).

 Inativação térmica dos fatores antinutricionais

A ação dos antinutricionais protéicos presentes nas leguminosas pode ser evitada, e o valor nutritivo dos grãos incrementado, com a correta aplicação de calor.
O aumento no valor nutricional é dependente da temperatura, da duração do aquecimento, do tamanho das partículas e do conteúdo de umidade (BUSHMAN,1979).
O controle deste tratamento apresenta alguns complicadores como, as atividades hemaglutinante e antitríptica apresentam grande diferença quanto a estabilidade ao calor. As espécies de leguminosas, dados as suas diferenças estruturais e químicas, apresentam diferentes respostas a este tratamento térmico. Em alguns materiais, estas atividades são destruidas em menos de 10 minutos a 100ºC, enquanto em outros elas ainda podem ser detectadas após 60 minutos a 100ºC.
Dada esta necessidade de tratamento térmico, tem-se proposto para a soja integral vários tratamentos que possibilitem sua utilização na alimentação de animais monogástricos, ou sejam: extrusão, tostagem, micronização, microondas e cozimento em vapor ou água fervente.
O processo de extrusão, que envolve calor úmido e pressão, provoca o rompimento da parede celular com conseqüente desnaturação protéica, propiciando maior exposição dos nutrientes (BUSHMAN, 1979).
Na tostagem, o aquecimento é realizado sob condições de baixa umidade e a temperatura e tempo de aquecimento variam de acordo com o tipo de equipamento (WALDROUP et al., 1985).
A micronização consiste no tratamento dos grãos por calor seco emitido por raios infravermelhos (NETO, 1992).
O aquecimento com microondas se dá pela interação de ondas eletromagnéticas com moléculas polarizadas, criando fricções infra e intermoleculares, que resultam na produção de calor (MAcLEOD, 1972).
O cozimento em vapor, geralmente é realizado em autoclave, que emprega altas temperaturas e pressão, enquanto que em água fervente é feito á atmosfera ambiente e com grãos imersos em água.
A maceração, ou seja, a hidratação dos grãos antes do aquecimento, tem sido recomendada por muitos pesquisadores (LIENER, 1962; NORDSTROM & SISTRUNK, 1977; DURIGAN et al., 1978; KANEOYA, 1993). Sua principal finalidade, de acordo com CABRAL (1981), é de uniformizar o cozimento e tomá-lo mais rápido.
RACKJS (1966) mostrou que o tratamento com vapor (100ºC), por 20 minutos,
foi muito eficiente na eliminação da atividade antitríptica da soja, quando esta
continua 25% de umidade e que esta eficiência era bastante diminuída quando a
umidade era reduzida para 6%.
GALLARDO et al. (1974), BUERA et al. (1984) e SHARMA & SEHGAL (1992) também concluíram que a inativação do inibidor de tripsina quando a soja macerada em água (25ºC por 10 horas) foi aquecida em água fervente por 20 minutos.
O aquecimento tem se mostrado bastante eficiente para grãos, mas com efeito reduzido ou mesmo ineficiente quando se trata de farinha ou do inibidores purificados, que se apresentam bastante estáveis a este tratamento.
Vários autores têm reportado a presença de inibidores ativos , após o aquecimento da farinha em água fervente, por 30 minutos (ANTUNES & SCARBIERI, 1980; BOROWSKA & KOZLOWSKA, 1931; DHURANDHAR & CHANG, 1990).
RAYAS - DUARTE et al. (1992), estudando nove cultivares de feijão (Phaseolus vulgaris), mostraram que a atividade dos inibidores de tripsina apresentam estabilidade mínima nos grãos, média na farinha e máxima no extrato aquoso (albumina), quando aquecidos em água fervente por 30 minutos.
O aquecimento de grãos de feijão a 190ºC, por 30 segundos, resultou na inativação de cerca de 72% da atividade dos inibidores (CARVALHO et al., 1977), porém a farinha, ao ser aquecida em estufa a 100ºC, por 30 minutos, não resultou em perda da atividade dos inibidores de tripsina, indicando a alta estabilidade para o tratamento a seco (RAYAS - DUARTE et al., 1992).
Os efeitos dos tratamentos térmicos sobre os fatores antinutricionais do feijão-alado (Psophocarpus tetragonolobus L. DC) foram estudados por KADAM et al. (1987). Observaram que os tratamentos dos grãos com raios infravermelhos, e o cozimento em água fervente, assim como a autoclavagem da farinha, foram os mais eficientes para inativar as atividades dos inibidores de tripsina e hemaglutinante, e reduzir o nível de taninos. No entanto, o aquecimento da farinha em microondas e estufa, não tiveram efeitos sobre estes constituintes.
BRENES et al. (1973) autoclavaram grãos de feijão (Phaseolus vulgaris) a 121ºC, por período variando de O a 180 minutos, e sugeriram que a relação ótima entre o tempo e a temperatura de aquecimento deve ser conhecida para cada espécie ou cultivar, uma vez que o tratamento térmico insuficiente não produz resultados satisfatórios, e o excesso prejudica o valor nutritivo dos grãos.
As alterações sofridas pelos grãos durante o cozimento são de modo geral favoráveis ao aproveitamento dos mesmos, mas o aquecimento excessivo pode ocasionar a destruição parcial ou total dos nutrientes termolábeis, o que é agravado quando não se tem conhecimento satisfatório dos diferentes efeitos do binômio tempo e temperatura.
Para avaliar a intensidade do tratamento térmico, objetivando a inativação dos fatores antinutricionais e melhora na qualidade nutricional das proteínas, têm sido propostas as determinações da solubilidade da proteína e da atividade ureática. Vários pesquisadores têm demonstrado decréscimo na solubilidade da proteína da soja com aumento no aquecimento (SMITH & CIRCLE, 1972; ANTUNES & SGARBIERI, 1981; LEE & GARLICH, 1992). Experimento realizado por ARABA & DALE (1990 a), com autoclavagem da farinha de soja por 0, 5, 10, 20, 40 e 80 minutos, mostrou que a solubilidade da proteína, em hidróxido de potássio, diminui de 86,6% para 40,8% em 80 minutos abaixo de 70% indicam super aquecimento.
A soja contém uma enzima denominada urease, que apesar de não causar efeitos antinutricionais aos animais é usada como indicador nas indústrias de extração de óleo, bem como de processamento de soja integral, no controle da aplicação do calor.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Ração (ANFAR, 1992), recomenda que o farelo de soja para ser comercializado, deve ter atividade ureática entre 0,05 e 0,30 unidades de pH.

Efeito do tratamento térmico na composição de aminoácidos

O tratamento térmico parece ser o processo que mais afeta a qualidade nutricional da proteína da soja. MAGA et al. (1973) consideraram que o aquecimento toma as proteínas mais susceptíveis à hidrólise enzimática devido as seguintes possibilidades: modificações estruturais da proteína; destruição dos fatores anti­enzimáticos presentes no produto; atuação nos lipídeos e carboidratos que estavam ligados à proteína.
Com o aquecimento, em geral, a qualidade protéica aumenta no período inicial do tratamento, devido à inativação dos fatores biologicamente ativos. Após alcançar os valores máximos diminui, devido à destruição e/ou perda de disponibilidade de aminoácidos essenciais, como cistina e a lisina (DEL VALE, 1981).
Uma importante propriedade das proteínas da soja é o seu alto teor em aminoácidos essenciais, particularmente lisina, triptofano, fenilalanina e leucina (BOOKWALTER et al., 1971). Entretanto, são deficientes em sulfurados (metionina e cistina) conforme o evidenciado por WOLF (1970); KAKADE et al. (1972), LAM­SÁNCHEZ (1978).
A composição em aminoácidos está relacionada além da variabilidade genética, das condições climáticas e de plantio, ainda aos tipos de processamento.
O efeito de vários tratamentos térmicos na composição em aminoácidos do feijão-alado foi avaliado por KADAM et al. (1987). Observaram menor conteúdo de lisina e valina na farinha tratada em autoclave e nos grãos aquecidos em água fervente ou com infravermelho, em relação à farinha não tratada. Perdas significativas de treonina e arginina também foram aquecidos em água fervente, porém a composição em aminoácidos essenciais não foi influenciada pelo aquecimento em estufa e microondas
Estudando o efeito do aquecimento no valor nutricional de diversas dietas preparadas com proteínas de sementes de oleaginosas (algodão, amendoim ou soja), RHEE & RHEE (1981) verificaram que após 2 horas de aquecimento a 100ºC houve perda de lisina disponível e de aminoácidos totais, principalmente arginina, lisina, triptofano e histidina.


 Controle de qualidade do processamento da soja integral

As principais observações sobre o baixo valor nutricional das proteínas da soja crua para ratos, e o aumento de suas qualidades nutricionais pelo tratamento com calor foram obtidas, no inicio do século, por OSBORNE & MENDEL (1917). Estas foram posteriormente estendidas a outras espécies animais.
CHERNICK et al. (1984) verificaram que aves alimentadas com dieta contendo farinha de soja crua apresentaram crescimento retardado e hipertrofia do pâncreas.
Ao analisarem o nível de inclusão da soja crua em dietas para aves, WALDROUP & COTTON (1974) recomendaram que a ração não deveria conter mais do que 25% de soja crua. A substituição parcial do farelo de soja por grãos de soja crus, aos níveis de 4 a 8% em rações de crescimento para frangos de corte, foi analisada por SOUZA (1978), onde conclui que esses níveis não afetam o consumo de ração e a conversão alimentar, mas interferem de maneira depressiva no ganho de peso dos animais.
WOOD et al. (1971) compararam o efeito da substituição de soja crua em dietas para aves com diferentes idades. Observaram que a soja crua não deveria ser incluída nas dietas, antes das aves completarem 4 semanas de idade, tendo em vista o pior desempenho observado nesta fase, atribuído à deficiente utilização do nitrogênio e à queda no apetite, causados pela ingestão da soja crua.
Apesar da susceptibilidade das aves aos fatores antinutricionais da soja diminuir com a idade, os resultados dos experimentos realizados por ALUMOT & NITSAN, 1961; BORNSTEIN et al. 1961, indicam que a soja ou o farelo de soja devem ser tratados termicamente para serem utilizados em rações para aves.
Os trabalhos realizados por HULL et al. (1968) e MITCHEL et al. (1972) indicaram que temperaturas de 115ºC a 125ºC na tostagem da soja produziram resultados satisfatórios para frangos, desde que a ração fosse peletizada. No entanto, BRAY et al. (1971) indicaram que temperaturas mais elevadas seriam necessárias para se evitar a hipertrofia pancreática.
Apesar da qualidade nutricional da soja e de seus derivados ser aumentada com o aquecimento, um subprocessamento pode ainda implicar em baixa qualidade do farelo, dados os níveis elevados de fatores antinutricionais ativos. Por outro lado, um superprocessamento reduz o valor nutritivo, principalmente por tomar a lisina indisponível (ARABA & DALE, 1990).
WHITE et al. (1967) observaram que a soja processada em autoclave, por 30 minutos a 0,42 Kg/cm com uma adição de 30% de água, era adequada para frangos.
Com objetivo de determinar o menor tempo requerido para o processamento da soja integral, SIMOVIC et al. (1972) conduziram um experimento onde a temperatura variou de 2O4ºC a 316º C e o tempo de aquecimento de 1 a 3 minutos. Para cada tempo foi encontrada uma temperatura ótima, avaliada pelo ganho em peso e a conversão alimentar em pintos. Estes parâmetros foram melhores para todos os grupos que receberam soja tratada.
A literatura apresenta resultados bastante conflitantes com relação aos efeitos do aquecimento dos alimentos em tomo de microondas. KALAFAT & KROGER (1973) constataram que vários estudos demonstraram poucas diferenças nutricionais significativas entre alimentos aquecidos por microondas e aqueles aquecidos por métodos convencionais. Por outro lado LORENZ (1976) ao revisar a literatura sobre o efeito do microondas na composição dos alimentos concluiu que estes perdem mais umidade e retém mais as propriedades originais da proteína, como por exemplo a solubilidade.
WHING & ALEXANDER (1975) verificaram que para se obter boa qualidade nutricional das proteínas, o período ótimo de aquecimento do grão de soja, com 48% de umidade, por microondas, está entre 2 a 3 minutos.
Utilizando a soja integral processada em forno de microondas em rações para poedeiras. PABLOS (1987) observou baixa digestibilidade da proteína.
A quantidade de grãos de soja, com 10% de umidade, a ser processada, e o tempo de aquecimento em microondas na qualidade nutricional para frangos de corte, foram investigados por FULLER JR et al. (1988). Para isso, aqueceram quantidades de 11 a 13 Kg de soja por tempo de 234, 294 e 354 s/Kg e observaram diminuição significativa no ganho em peso das aves com o aumento do tempo de aquecimento, enquanto que a atividade dos inibidores de tripsina foi reduzida satisfatoriamente. Em outro experimento, processaram quantidades de 2Kg de soja por tempos de 470, 510, 550 s/Kg, e observaram redução na atividade dos inibidores, a disponibilidade de lisina permaneceu alta e não observaram diferenças significativas no ganho em peso.
A avaliação de vários tratamentos térmicos na qualidade da proteína do feijão alado para ratos, foi estudada por KADAM et al. (1987). Os autores verificaram que ratos alimentados com dietas contendo feijão cru, feijão tratado em microondas e em estufa, apresentaram menor ingestão de matéria seca e perda significativa de peso. Aumento no consumo de matéria seca e no ganho em peso foi observado ao se incorporar às dietas o feijão tratado em água fervente, raios infravermelhos e autoclave.
A relação entre o conteúdo de inibidor de tripsina presente na ervilha e a digestibilidade da proteína foi avaliada por CARRE & CONAN (1989). Em experimentos com aves em crescimento, substituiram 40% do farelo de soja por farinha de ervilha proveniente de grãos autoclavados. Os dados obtidos mostram que não houve correlação significativa entre o aumento da digestibilidade aparente da proteína e a diminuição no conteúdo de inibidores de tripsina, levando à conclusão de que a atividade do inibidor não é o único fator envolvido com esta digestibilidade.
ARABA & DALE (l990b) autoclavaram (121ºC) farelo de soja por 0, 15, 30 e 60 minutos (experimento 1) e por 0,5; 10, 15 e 20 minutos (experimento 2) e observaram que as atividades da urease e dos inibidores de tripsina, assim como a solubilidade da proteína, diminuíram com o aumento do tratamento térmico. O melhor crescimento das aves foi obtido quando o farelo foi autoclavado por 15 minutos, o que resultou em solubilidade da proteína de 75%, atividade ureática de 0,12 unidades de pH e porcentagem de atividade residual dos inibidores de tripsina de 10%. O aquecimento por 60minutos levou a uma diminuição no ganho em peso e prejudicou a conversão alimentar. Observaram também que o peso relativo do pâncreas foi significativamente reduzido com a autoclavagem.
A eficiência das análises “in vitro”, como parâmetro para avaliar a intensidade do tratamento térmico, e a qualidade nutricional das proteínas tem sido questionada. McNAUGHTON & REECE (1980) demonstraram que a atividade ureática igual a zero, em farinha, nem sempre é indicativo de perdas pelo aquecimento, pois baixos níveis desta atividade não se correlacionam com prejuízo no desempenho das aves. Esta análise não permite expressar valores para a severidade do superprocessamento (ARABA & DALE, 1990; ANDERSON - HAFERMNN et al., 1992). NOLAND et al. (1976) sugeriram que a atividade ureática não deve ser usada como único indicador do valor nutricional da soja integral para suínos.
ARABA & DALE (1990) sugerem que a solubilidade da proteína pode ser utilizada para detectar o superprocessamento da soja integral. No entanto, ANDERSON - HAFERMANN et al. (1992) não a recomendam, pois não observaram mudanças consideráveis na solubilidade da proteína com o aumento no tempo de autoclavagem, no intervalo de O a 15 minutos. Ainda MARSMAN et aI. (1993) concluíram que a atividade ureática não se mostrou adequada para a avaliação de produtos extrusados, enquanto que o índice de solubilidade do nitrogênio em hidróxido de potássio for maior, até mesmo quando as condições de extrusão foram extremas.
A atividade dos inibidores de tripsina como parâmetro indicador do processamento térmico e do valor nutricional da soja integral para aves também tem sido investigada. HERKELMAN et al. (1991) verificaram que frangos de corte alimentados durante 21 dias, com farinha de soja integral apresentaram máxima performance quando os grãos foram aquecidos a 12lºC por 40 minutos. Observaram que a adição de metabissulfito de sódio reduziu pela metade o tempo de aquecimento requerido para inativação dos inibidores, e concluíram que a atividade do inibidor de tripsina se mostrou mais exata do que a atividade ureática na avaliação dos efeitos dos tratamentos aplicados.
VELTMAN et al. (1986) sugeriram que a qualidade nutricional do farelo de soja processado comercialmente, deve ser avaliada não somente com base nos testes “in vitro”, mas também com base em testes biológicos.
Os melhoristas da soja também têm se preocupado com o aspecto nutricional da mesma além do agronômico, o que levou ao desenvolvimento nos EUA, da linhagem KFSB, ou seja, com baixa concentração do inibidor de Kunitz, com manutenção das outras características desejáveis.
Esta soja integral crua, tem se mostrado superior à soja convencional, em dietas para aves (PEO et al., 1938; HERKELMAN et al., 1989), porém com qualidade inferior ao farelo de soja comercial (HAN et al., 1991; ZHANG et al., 1991). Isto sugere que aumentos no valor nutricional devem estar associados à melhora na digestibilidade das proteínas e a aumentos na disponibilidade de aminoácidos (KOELHER et al., 1938).
Embora a soja KFSB tenha uma redução de 40 a 50% na atividade dos inibidores de tripsina, em relação a soja convencional, seu máximo valor nutritivo, para aves, também é alcançado com o tratamento térmico, cuja intensidade requerida para se obter um ótimo grau de qualidade da proteina é menor do que os aplicados a soja convencional. (ANDERSON - HAFELMANN et aI., 1992; HERKELMAN et al., 1992; 1993). O efeito benéfico também está associado com a desnaturação da proteína (KAKADE et al., 1973) e a redução na atividade hemaglutinante (FRIEDMAN et al., 1991).
Os níveis de atividades dos inibidores de tripsina na soja integral e no farelo que podem causar efeitos deletérios às aves não são totalmente conhecidos. ANDERSON - HAFERMANN et al. (1992) observaram que a soja crua com atividade do inibidor igual a 6.780 unidades/g amostra produziram ganho em peso igual a 97 g, enquanto que soja KFSB com atividade igual a 4.276 unidades/g amostra propiciaram ganho em peso de 117 g. Os melhores resultados foram obtidos quando a atividade do inibidor foi reduzida para 1.169 unidades/g, com 15 minutos de autoclavagem, e 844 unidades/g com 12 minutos para sojas, convencional e a KFSB, respectivamente. Observaram também que embora estes materiais contivessem maior atividade inibidora do que o farejo de soja comercial (268 unidades/g), as aves apresentaram performance similar, levando-os a concluir que estes níveis de inibidor foram aparentemente insuficientes para causar depressão ao crescimento.
O      valor nutricional da proteína da soja também é afetado pela presença de hemaglutininas ou lectinas, que são proteínas capazes de se ligarem especificamente a carboidratos, em solução, ou unirem às membranas das células, aglutinando-as.
Os efeitos nos animais monogástricos atribuídos às lectinas são: retardamento no crescimento (LIENER, 1953), diminuição da digestibilidade e absorção de nitrogênio (JAFFÉ & CAMEJO, 1961), diminuição da digestibilidade de carboidratos (REA et al., 1985), alteração da atividade das enzimas intestinais e hepáticas (JINDAL et al., 1984) e diminuição da insulina do sangue (PUSZTAI et al., 1986).
O      mecanismo do efeito antinutricional das hemaglutininas foi proposto por JAFÉ (1968). Quando administradas oralmente, o efeito tóxico pode ser causado pela sua habilidade em ligar-se a receptores específicos das células epiteliais da parede intestinal. PUSZTAI et al. (1979) mostraram que as hemaglutininas reagem com as células intestinais in vitro” e causam o rompimento de microvilosidades das células epiteliais (mucosa) do duodeno e do jejuno. Embora prejudicada em certa extensão, a absorção ainda pode ocorrer, provavelmente através das células não rompidas do intestino delgado. Em adição, absorção anormal de substâncias potencialmente perigosas pode ocorrer, como as próprias hemaglutininas ou toxinas de origem bacteriana, como resultado do rompimento causado pelas hemaglutininas aos epitélios.
TURNER & LIENER (1975) avaliaram o significado nutricional da hemaglutinina da soja, na alimentação de ratas. As dietas oferecidas continham farinha de soja aquecida, às quais foram adicionadas extratos salinos contendo ou não hemaglutinina, e extrato salino aquecido. Observaram que a dieta contendo hemaglutinina provocou uma diminuição do apetite, e um valor de PER (coeficiente de eficiência protéica) pior, embora não significativo, do que a isenta de hemaglutinina, sendo este parâmetro significativamente superior para dietas contendo extrato salino aquecido. Os autores concluíram que a hemaglutinina é um fator relativamente menor em sua contribuição para o baixo valor nutricional da soja crua, pois nenhuma melhoria no valor nutricional foi obtida quando as hemaglutininas foram removidas da soja.
Badui (1984), citado por LA BARCA et al. (1989), conclui que os valores de PER são diretamente proporcionais ao aquecimento da farinha de soja com vapor a 100ºC por tempos entre O e 15 minutos. GARLICH & NESHEIM (1966), alimentando aves com rações contendo hemaglutininas, observaram uma diminuição do crescimento, demonstrando seu efeito depressor quando consumida por via oral.
As hemaglutininas representam cerca de 3% do conteúdo protéico dos grãos de soja, e seus efeitos tóxicos podem ser eliminados com tratamentos adequados.
JAFFÉ (1972) e JAFFÉ & BRUCHER (1968) recomendaram que testes com eritrócitos bovinos tripsinizados fossem usados para a detecção dos feijões tóxicos e para monitoramento da adequação do tratamento térmico para a eliminação da toxidade da hemaglutinina de feijões.
A persistência de hemaglutinina na soja não aquecida suficientemente, quando ingerida não sobrevive intacta no trato digestivo devido a acidez intestinal e as enzimas digestivas (LA BARCA et al., 1989), sendo esta a razão, conforme estes pesquisadores, de que as hemaglutininas não afetam significativamente o valor nutritivo dos produtos derivados da soja.
Pelas observações dos trabalhos revisados fica evidente a importância da soja integral para a avicultura, porém, o uso efetivo do grão integral depende do seu processamento pelo calor, levando à necessidade de se conhecer adequadamente o binômio tempo-temperatura mais eficiente para o tratamento de cada material submetido a diferentes fontes de calor.

Esta revisão é parte integrante da
“Monografia apresentada ao “Centro de Pós Graduação das Faculdades Oswaldo Cruz” como parte dos requisitos exigidos para a conclusão do curso de “Especialização em Gestão da Qualidade”
do Eng. Edilson Marques de Gouvêa
CONTROLE DE QUALIDADE DE MATÉRIA PRIMA
PARA FABRICAÇÃO DE NUTRIENTE ANIMAL

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Determinação do Título de Metionina


Tempo Total de Trabalho:  01 Hora.

Aparelhos:
·       Bureta Dosimat Metrohm E 645, com unidade intercambiável de 20ml.
·       Erlenmeier para  índice de Iodo, de 250 ml, com tampa.
·       Proveta graduada de 100 ml.
·       Pipetas graduadas de 1 e 20 ml.
·       Pipeta volumétrica de 50 ml.
·       Balança analítica com precisão de 0.1 mg.
·       Frasco  de polietileno de 100 ml, com tampa.

Soluções:
1.     Solução Tampão de Fosfato:

a)       Dissolver 100g de Fosfato dibásico de potássio (K2HPO4), em água desmineralizada e completar o volume à 1 litro, em balão volumétrico.
b)       Dissolver 100g de Fosfato monobásico de potássio (KH2PO4), em água desmineralizada e completar o volume à 1 litro, em balão volumétrico.
c)        Misturar 1 litro da solução (a) com 400 ml da solução (b). Estocar em frasco âmbar, com tampa.

2.     Solução de Iodeto de potássio 67 g /L:

       Dissolver 67 g de iodeto de potássio P.A. (KI), em água desmineralizada e completar o volume à 1 litro, em balão volumétrico. Estocar a solução em frasco de vidro âmbar, com tampa.

3.     Solução de Iodo 0,1 N:
   Em um bequer de 250 ml, pesar 12.7g de Iodo resublimado e dissolvê-lo em aproximadamente 50 ml de água desmineralizada. Adicionar algumas gotas de Ácido Clorídrico concentrado, para ajudar à dissolução do Iodo. Transferir para um balão volumétrico de 1 litro, com auxílio de um funil analítico.
   Adicionar ao balão, 25 ± 1g de Iodeto de Potássio P.A. homogeneizar bem a mistura e completar o volume do balão com água desmineralizada. Armazenar a solução em frasco âmbar.
·       Padronização:
    Em um erlenmeier de 250 ml, limpo e seco, pesar de 0,3 à 0,4g de Ácido Ascórbico p.a. e chamar de P esse peso em gramas. Adicionar cerca de 50 à 100 ml de água desmineralizada. Titular com a solução de Iodo a ser padronizada, utilizando indicador de Amido 1% no final da titulação. O ponto de viragem se dá na passagem da cor incolor para marrom claro.
   Chamar de V  o volume em ml gasto na titulação.
    Fazer a padronização em duplicata.

   Fator de Correção  =    113,55  x  P        
                                                V           

4.      Solução de Tiossulfato de Sódio 0,1 N:
  Em um bequer de 250 ml, pesar 27.9g de Tiossulfato de Sódio penta-hidratado P.A. e 0,2g Carbonato de Sódio anidro P.A. .
   Dissolver e completar a 1 litro, em balão volumétrico, com água desmineralizada previamente fervida. Deixar decantar durante 24 horas e padronizar. Estocar a solução em frasco âmbar.

·       Padronização:
   Em um erlenmeier de 250 ml, adicionar 20 ml de Iodo 0,1N, 20 ml de solução de Iodeto de Potássio a 10% e 100 ml de ácido sulfuríco a 20%. Titular a mistura com a solução de Tiossulfato de Sódio a ser padronizada, adicionando cerca de 1ml de Amido no final da titulação. O ponto final se dá na passagem da cor marrom para incolor.

                   Fator de Correção  =    20 x  F        
                                                        V  
Onde:
          V = ml de Tiossulfato de Sódio gasto na titulação.
         F = Fator de correção da solução de Iodo 0,1N.

5.     Solução indicadora de Amido 1%:
   Dissolver 10g de Amido solúvel em 1 litro de água desmineralizada. Aquecer até que se obtenha uma solução transparente. Resfriar e filtrar se necessário. Adicionar algumas gotas de Tolueno como preservativo.
Þ      Procedimento:
1.        Em um erlenmeier para índice de Iodo, de 250 ml, pesar 0,3  ± 0,0001g de amostra. Chamar este peso em gramas da amostra de P .
2.        Adicionar com proveta  70 ml de solução tampão de Fosfato e com pipeta volumétrica 30 ml de Iodeto de Potássio 67g/L. Dissolver bem a amostra.
3.        Adicionar 50 ml de solução de Iodo 0,1N , medidos com pipeta volumétrica.
4.        Tampar o erlenmeier, homogeneizar e deixar em repouso durante 30 minutos, ao abrigo da luz.
5.        Titular o excesso de Iodo, com  a solução de Tiossulfato 0,1N, até a coloração amarelo pálido. Adicionar 1 ml de Amido 1% e continuar a titulação até a total descoloração. Chamar de V, o volume em ml gasto na titulação de amostra.
6.        Fazer um ensaio em branco procedendo como descrito nos itens 2 à 5, sem colocar amostra. Chamar de , o volume em ml gasto na titulação do branco.
7.        Fazer a análise em duplicata.

Þ      Cálculo:
                                  % p/p de MTN =   149,2 x ( -  V ) x  F  x  100
                                                                      2  x  10  x  1000  x  P

Þ   =  0,746 ( V´ -  V ) x F 
                                                                            P

                                  onde:
                                            P  = Peso em gramas da amostra.
                                            V  = ml de Tiossulfato de Sódio 0,1 N gasto na titulação da amostra.
                                            = ml de Tiossulfato de Sódio 0,1 N gasto na titulação do branco.
                                            F  = fator de correção da solução de Tiossulfato de Sódio 01

segunda-feira, 11 de abril de 2011

ERP (Enterprise Resource Planning)

Introdução

A evolução tecnológica, o aquecimento - e até mesmo o desaquecimento - da economia, o aumento da oferta de crédito e o alcance de novos mercados estão entre os fatores que elevam significantemente a competitividade das empresas. Para se manter nesse patamar ou para continuar crescendo, as companhias precisam contar com gerenciamento adequado de seus recursos, dados e procedimentos. Um dos caminhos mais utilizados para isso é a adoção de soluções de ERP (Enterprise Resource Planning), isto é, de sistemas de gestão empresarial. Neste artigo, o InfoWester explica o que esse tipo de software significa para uma empresa, quais as suas vantagens e desvantagens, além de outros informações sobre o assunto. Vamos lá?

O que é ERP e qual a sua utilidade?

Em sua essência, ERP é um sistema de gestão empresarial. Imagine que você tenha uma empresa que conta com vários sistemas, um para lidar com as contas a pagar, um para gerar folhas de pagamento, um para controlar vendas, um para gerenciar impostos, um para analisar metas e desempenho, entre outros. Em vez de existir um ou mais softwares para cada departamento da companhia, não seria melhor contar com uma integração entre eles, de forma que todos fizessem parte de um sistema unificado? É justamente isso que uma solução de ERP oferece.

Com um único sistema integrando todos os departamentos - ou pelo menos os setores mais importantes -, a comunicação interna se torna mais fácil e menos custosa. O departamento financeiro, por exemplo, poderá saber rapidamente quanto dinheiro destinar à quitação de impostos e quanto direcionar ao pagamento de funcionários, de acordo com as informações que o setor de gestão de recursos humanos disponibilizar no sistema. O chefe de um determinado departamento poderá avaliar o desempenho de um funcionário e discutir junto ao gerente de RH quanto a empresa pode lhe oferecer de aumento. O departamento de marketing poderá consultar o controle de vendas, perceber que um determinado produto não está tendo a saída desejada e, com base nisso, desenvolver uma nova estratégia para reverter esse quadro. Ao mesmo tempo, pode verificar se a verba disponibilizada pelo departamento é suficiente para esse trabalho ou se é necessário marcar uma reunião para solicitar mais recursos.

Perceba com esses exemplos que há várias situações onde a integração de sistemas se mostra vantajosa.

Note que, com sistemas distintos, cada setor teria mais dificuldade para se comunicar com o outro, o que resultaria em maior tempo, mais gastos e até em cansativos procedimentos burocráticos. Além disso, com um sistema de ERP, a empresa passa a ter menos fornecedores de software, o que diminui custos com licenças, suporte técnico, servidores, treinamento, entre outros.

Neste ponto, você já deve ter percebido o quanto sistemas de gestão podem ser importantes para as empresas. Diminuem custos, tornam a comunicação mais eficiente, ajudam na tomada de decisões, permitem uma apuração mais precisa do que está acontecendo na companhia, enfim. Não é por menos que muitas empresas consideram esse tipo de software imprescindível às suas atividades.

Implementação de sistemas de ERP

ERP não é o tipo de software que é comprado na prateleira de uma loja para depois ser instalado em um computador e, em seguida, estar pronto para o uso. Acontece que cada empresa, em face de suas atividades e de suas estratégias operacionais, possui necessidades distintas das outras, portanto, sistemas de ERP só serão funcionais se ao menos as características mais importantes da companhia forem levadas em conta.

Basta entendermos que uma empresa que fabrica medicamentos, por exemplo, tem necessidades bem diferentes de outra que trabalha no ramo de transportes. A primeira precisa se preocupar com obtenção de matéria-prima, pagamento de licenças de patentes, pesquisas em laboratórios, entre outros. A segunda, por sua vez, precisa se preocupar com a idade da frota, com gastos de combustível, com pedágios e assim por diante. Uma empresa também pode atuar em mais de um ramo de atividade ou exercer suas operações em vários estados do país, de forma que se vê obrigada a pagar impostos diferentes em cada local, por exemplo. Enfim, como é possível perceber, cada companhia precisa contar um sistema de gestão que se adapte a ela.

No intuito de controlar gastos, a empresa também precisa definir qual tipo de licenciamento é mais adequado às suas operações: instalação do sistema em servidores próprios, utilização do sistema em servidores terceirizados (geralmente, oferecidos pelo provedor da solução), solução baseada em computação nas nuvens (cloud computing), pagamento por usuário (ou por computador de acesso), uma mistura de uma ou mais dessas modalidades, enfim.

As soluções baseadas em cloud computing costumam ter custo menor, pois a empresa não precisa se preocupar com servidores, manutenção, atualização, entre outros. Além disso, oferece acesso mais fácil para usuários que estão fora das dependências da empresa - um vendedor que está em outra cidade visitando um cliente, por exemplo. Por outro lado, podem resultar em gastos maiores ao longo prazo porque, em geral, seu tipo de licenciamento exige pagamento periódico, como se fosse uma assinatura de jornal, grossamente comparando.

Repare que é importante à empresa analisar as soluções de ERP existentes no mercado e as modalidades de licenciamento oferecidas para saber qual lhe atender melhor. Se a empresa não tiver uma equipe de Tecnologia da Informação (TI) capaz de fazer essa análise, pode valer a pena procurar um serviço de consultoria.

O tempo de implementação também é um parâmetro importante. Sistemas de ERP não começam a funcionar da noite para o dia. Os provedores das soluções precisam de tempo para adaptar o software às atividades da empresa, sem contar que necessitam considerar a infraestrutura, os recursos de segurança, testes, treinamento de pessoal, integração entre departamentos, migração a partir de sistemas legados, entre outros. Além disso, a implementação geralmente ocorre por etapas, de forma que determinados módulos do sistema sejam instalados somente depois de esse processo já ter ocorrido com outros. Portanto, a implementação de um ERP pode consumir vários meses.

Módulos de um sistema de ERP

Conforme informado no início do texto, sistemas de ERP lidam com os vários departamentos de uma empresa. No entanto, não precisam, necessariamente, cobrir cada uma delas, pelo menos não ao mesmo tempo. Dependendo das expectativas da companhia em relação ao ERP, é possível atender determinadas áreas em um primeiro momento e as demais de maneira progressiva. Para isso, os provedores fazem o fornecimento do sistema em módulos, que são divididos de acordo com suas funcionalidades.

Como você já sabe, não há um sistema de ERP que, por si só, possa atender tudo o que é empresa. É necessário customizar a solução de acordo com as atividades da companhia. Por outro lado, há determinados processos que são bastantes comuns em todas ou na maior partes das empresas, até mesmo por uma questão de legislação. Eis algumas categorias de módulos que se encaixam nesse contexto:

- Financeiro;
- Contabilidade;
- Recursos humanos;
- Ativo fixo;
- Processos;
- Projetos;
- Jurídico.

A partir daí, podemos encontrar módulos mais específicos, adotados em menor escala e apenas se estiverem em conformidade com as atividades da empresa, por exemplo:

- Estoque;
- Distribuição de produtos;
- Frota;
- Comércio exterior;
- Gestão de conhecimento;
- Controle de materiais;
- Automação comercial;
- Análise de riscos.



Perceba que nem toda empresa precisa gerenciar frota ou lidar com automação comercial, por exemplo. A vantagem do esquema de módulos está justamente aí. A companhia implementa somente aqueles que lhe são úteis e pode adicionar mais com o tempo, motivada pela expansão dos negócios, pela atuação em um novo segmento do mercado, entre outros.

Escolhendo uma solução de ERP

Você já deve ter percebido que um sistema de ERP é um investimento sério e que precisa ser feito com cuidado. Mas, como escolher uma solução com tantas opções no mercado? Só no Brasil, há várias empresas especializadas em ERP com grande aceitação, como SAP,TOTVS, Microsoft Dynamics (inclusive  (um executivo da Microsoft Dynamics inclusive já deu uma entrevista ao Info Wester) e Oracle.

Como saber qual é a melhor escolha? Será que considerar somente preço é suficiente? Não há fórmula certa que sirva para todas as empresas, mas há várias dicas que podem ajudar na escolha mais adequada. A seguir, descrevemos algumas.

A primeira é entender exatamente quais as necessidades da companhia em relação ao ERP para então definir o que é prioridade. Tal análise indica um caminho a seguir. Para isso, pode ser necessário realizar reuniões com gerentes dos setores, com funcionários que exercem funções mais críticas, enfim.

Depois disso, fica mais fácil analisar as soluções oferecidas por fornecedores de ERP. Neste ponto, é necessário avaliar as propostas feitas por cada empresa para, em primeiro lugar, identificar aquelas que melhor podem atender às necessidades identificadas. Neste ponto, também é importante verificar quais desses provedores têm experiência no fornecimento de software para o ramo de atuação da companhia.

Uma vez que o sistema de ERP precisa ser customizado para cada empresa, é importante saber também quais as tecnologias que o fornecedor disponibiliza para suas soluções. Com isso, é possível ter uma noção melhor dos custos com servidores, atualização, treinamento, entre outros. Além disso, nesse aspecto também é possível analisar a capacidade de integração e comunicação do sistema, a possibilidade de implementação de módulos no futuro, os recursos de segurança, compatibilidade com plataformas distintas (dispositivos móveis, por exemplo) e assim por diante.

Também é muito importante verificar quais as condições do suporte e manutenção oferecidas pelos provedores. O software certamente vai precisar de atualizações ao longo do tempo para correção de erros, melhorias em determinados procedimentos, adaptação para novas necessidades (implementação de uma nova regra tributária, por exemplo), ajustes de segurança, enfim. Sem contar que certas situações podem necessitar de auxílio do fornecedor, por exemplo: um determinado usuário pode precisar de suporte para ter acesso a uma relação de dados a ser submetida para uma auditoria externa.

Preço, é claro, também é um aspecto importante a ser considerado, mas é um erro aceitar apenas a solução mais barata ou acreditar que a opção mais cara, justamente por estar nesta condição, irá suprir todas as necessidades da empresa. Como informado anteriormente, há várias formas de licenciamento e cabe analisar qual é mais adequada à empresa. Deve-se considerar também que há outros custos atrelados, como um plano de suporte e manutenção (que pode ter renovação atual, por exemplo), implementação, infraestrutura, enfim.
  
 Há de se considerar também que muitas companhias que desenvolvem softwares de ERP trabalham com empresas que atuam como intermediárias com os clientes, como se fossem revendas. Entretanto, esses parceiros podem lidar não só com as vendas, mas também com outros processos, como suporte e implementação, por exemplo. A divisão Dynamics, da Microsoft, é uma das fornecedoras que exploram com sucesso esse modelo.

Como dica final, pode ser uma boa ideia iniciar contato com companhias que já utilizam soluções de fornecedores que apresentaram propostas à sua empresa. Essa iniciativa pode ajudar a avaliar os aspectos de desempenho, suporte, manutenção, treinamento e assim por diante. Mas é importante frisar que se um sistema de ERP deu certo em uma determinada companhia, não significa que terá o mesmo êxito na empresa que você representa, mesmo quando ambas atuam no mesmo ramo de atividade. Lembre-se de que cada negócio é único e requer soluções customizadas.

Principais vantagens e desvantagens de sistemas de ERP

Você já sabe que sistemas de ERP podem representar uma diferencial significativo no cotidiano das empresas. No entanto, é importante ter em mente que esse tipo de software não resolverá todos os problemas da companhia e, muitas vezes, pode não oferecer os resultados esperados para determinadas atividades. Além disso, podem trazer benefícios por um lado, mas situações indesejáveis por outro. Por isso, é importante conhecer as vantagens e desvantagens dos sistemas de ERP não só para escolher a solução mais adequada, mas também para conhecer os riscos atrelados à sua implementação.

Note que essa é uma análise que depende dos objetivos da companhia, portanto, muda de empresa para empresa, mas via de regra podemos apontar como vantagens que os sistemas de ERP podem:

- Ajudar na comunicação interna;
- Agilizar a execução de processos internos;
- Diminuir a quantidade de processos internos;
- Evitar erros humanos - em cálculos de tributos e pagamentos, por exemplo;
- Ajudar na tomada de decisões;
- Auxiliar na elaboração de estratégias operacionais;
- Agilizar a obtenção de dados referentes a determinados cenários;
- Diminuir o tempo de entrega do produto ou serviço ao cliente;
- Ajudar a lidar com grandes volumes de informação;
- Evitar trabalho duplicado;
- Fazer com que a empresa se adapte melhor a mudanças no mercado e na legislação.

Como possíveis desvantagens, podemos citar:

- Alto custo com customização e implementação;
- Implementação demorada - uma solução de ERP não fica pronta da noite para o dia, como você já sabe;
- Risco de prejuízo financeiro ou de desempenho com erros inesperados do sistema;
- Possíveis problemas com suporte e manutenção caso o fornecedor do software seja vendido ou encerre suas atividades;
- Dependência, que pode dificultar as atividades da empresa quando o sistema fica, por algum motivo, indisponível;
- Adaptação e treinamento por parte de funcionários podem demorar mais tempo que o esperado;
- Resistência ao novo, em caso de implementações ou atualizações;
- O sistema pode exigir mudanças em determinados aspectos da cultura interna da empresa;
- Pode-se perceber tardiamente que aquela solução não oferece a relação custo-benefício esperada;
- Ao longo do tempo, atualizações e acréscimos de módulos podem tornar o sistema excessivamente complexo.

É claro que é possível aplicar esforços para garantir que as vantagens tomem forma e que as desvantagens sejam amenizadas. Para isso, é necessário dedicação da equipe de TI, comprometimento por parte de toda a estrutura gerencial, acompanhamento constante das etapas de desenvolvimento e implementação, as já citadas escolhas de uma solução e de um fornecedor adequados às necessidades da companhia, análise de possíveis fatores internos e externos que podem influenciar no projeto, elaboração de uma boa política de segurança e assim se segue. Em relação à análise para identificar possíveis problemas, podemos tomar como exemplo o aspecto do treinamento: muitas vezes, é necessário treinar funcionários não apenas para que eles saibam manusear o programa, mas também para que consigam identificar o propósito daquilo. Isso evita erros e omissões.

ROI - (Return on Investment - Retorno do investimento)

O ROI (Return on Investment) é uma maneira da empresa determinar a relação entre o valor aplicado em um investimento - em nosso caso, uma solução de ERP - e os ganhos financeiros obtidos com este. Em outras palavras, é um meio de saber se a implementação do sistema deu o resultado esperado. No entanto, essa é uma medição subjetiva, uma vez que está baseada em estimativas. A empresa deve considerar uma série de fatores para fazer a avaliação mais adequada. Uma delas é o tempo.

Como você já sabe, soluções de ERP levam meses para serem implementadas e, acompanhados dos custos dessa fase, estão também as despesas inerentes à manutenção, suporte, treinamento, entre outros. Portanto, esperar que o ROI aconteça dentro de um intervalo de tempo curto muitas vezes é um equívoco, pois em muitos casos os benefícios da utilização do sistema só aparecerão depois de um período considerável de uso.

Para avaliar o ROI, a empresa precisa determinar todas as estimativas de custos do sistema e, essencialmente, comparar essas informações com as economias que este já proporciona. Por exemplo, o ERP fez com que o atendimento da empresa ficasse mais ágil, atraindo mais clientes? A comunicação interna melhorou, tornando os processos mais rápidos? O gerenciamento do estoque está mais preciso, evitando desperdícios ou atrasos na produção por falta de itens? Os funcionários estão gastando menos tempo para realizar determinadas tarefas, melhorando sua produtividade? E assim por diante.
Há vários meios para se calcular o ROI de um sistema de ERP. Se a empresa não tiver uma equipe capacitada para fazer essa avaliação, pode contratar consultorias especializadas para obter auxílio nessa tarefa.

Finalizando

Quando o assunto é ERP, não raramente há a associação desse tema com outros tipos de software para o segmento corporativo, entre eles, CRM (Customer Relationship Management), BI (Business Intelligence) e SCM (Supply Chain Management). Todos podem atuar em conjunto com o ERP, inclusive como módulos.

Tal como o ERP, esses sistemas existem porque podem ajudar a empresa a ser mais competitiva: sistemas de CRM atuam nos processos de relacionamento com o cliente; softwares de BI podem auxiliar na análise de dados e nas tomadas de decisões; soluções de SCM ajudam no gerenciamento eficiente da cadeia de suprimentos.

Isso mostra o quanto esse mercado é grande e promissor, principalmente se levarmos em conta que o número de conexões banda larga à internet está aumentando e que há uma oferta cada vez maior de serviços baseados em cloud computing, permitindo que softwares de ERP cheguem a uma quantidade cada vez maior de empresas. Isso é bom para todo mundo: para as companhias desenvolvedoras, pois gera perspectivas de oportunidades de negócios; para os profissionais de TI, pois aumenta o número de vagas no segmento; e para os clientes, pois um mercado concorrido resulta em melhores produtos, aumentando as chances da empresa encontrar uma solução realmente adequada aos seus negócios.

Escrito por Emerson Alecrim - Publicado em 09/06/2010 - Atualizado em 09/06/2010