Esse crescimento todo é alavancado pela “demanda nutricional de frangos, poedeiras, suínos, bovinos de corte e vacas leiteiras, animais fornecedores de carnes, ovos e leite que atendem o consumo doméstico e as exportações”, como detalha Zani. Por outro lado, o Brasil demonstra uma “completa dependência do fornecimento externo dos aditivos elaborados por síntese química ou fermentação”. O Sindirações calcula que a indústria de produção animal importou 300 mil toneladas de aditivos nutricionais em 2011, gastando cerca de US$ 1,3 bilhão.
Embora seja, obviamente, um dos maiores consumidores de aditivos alimentares do planeta, “o Brasil não conta com parque industrial local e importa praticamente todas as vitaminas,enzimas, aminoácidos, agentes promotores de crescimento etc”, alerta Zani. “A intensificação da produção animal alinhada aos modernos conceitos de desenvolvimento sustentável delega importância crescente aos aditivos alimentares utilizados na cadeia produtiva, por tornar a produção mais eficiente e a proteína animal mais acessível à população”, reconhece.
Ele comenta que o consumo de aditivos tem acompanhado o crescimento da produção de rações; e vai além, buscando melhor desempenho zootécnico, menor descarga de resíduos no meio ambiente e mitigação da pegada de carbono. Por isso, ano após ano, a importação desses moduladores do desempenho pecuário supera o crescimento proporcional atrelado à produção de rações e suplementos (efeito quantitativo), por causa dos benefícios adicionais atribuídos aos ganhos de produtividade e à preservação do meio ambiente (qualitativo).
De acordo com os dados do Sindirações, as importações de vitaminas, aminoácidos, agentes melhoradores de desempenho e outros aditivos triplicaram nos últimos dez anos. “É importante salientar que, apesar de fatores externos favoráveis e do fortalecimento da produção de carnes, a importação crescente dos aditivos para alimentação animal mantém um gargalo estratégico permanente”, adverte.
A indústria de rações teme essa vulnerabilidade nacional e as consequências dessa persistente dependência no desenvolvimento da cadeia produtiva brasileira. “A cada dia que passa, a competitividade brasileira fica mais vulnerável à capacidade de suprimento por parte dos fornecedores internacionais, notadamente originários de países da União Europeia, China, Estados Unidos, Índia, Uruguai e Coreia do Sul, já que esses mesmos países competem entre si em diferentes escalas no mercado fornecedor de produtos derivados de origem animal. Ou seja, são concorrentes do Brasil na oferta de carne bovina, suína e de aves, ovos, leite e derivados etc.”, observa Zani.
Ele salienta que praticamente todos os aditivos alimentares utilizados são importados, dos quais podem ser destacadas as vitaminas (A, D3, C, E, B1, B2, B6, B12, K3, pantotenato de cálcio, ácido fólico, niacina, biotina, cloreto de colina), os aminoácidos DL-metionina, treonina e triptofano (exceção à L-lisina, que tem produção nacional) e os agentes melhoradores de desempenho – enzimas, pré-bióticos, pró-bióticos, antimicrobianos e anticoccidianos.
Um outro elemento, mais palpável ainda, vem afetando a marcha dos negócios. As recentes greves do funcionalismo público federal e operações padrão têm comprometido o fluxo de mercadorias. Zani declara: “A interrupção na concessão de anuência prévia, a paralisação do tráfego aeroportuário, a inércia no desembaraço aduaneiro, e o atraso na conferência física das cargas e na liberação dos insumos essenciais à produção provocam perda de empregos e colocam em dúvida a imagem do Brasil, considerado um dos grandes fornecedores de alimentos do século XXI.”
Zani acrescenta que a dinâmica logística empregada na importação de aditivos alimentares tem exigido cada vez mais agilidade no fechamento de contratos internacionais e rápida autorização de embarques, em razão da escassez frequente e da profunda competição global. Ele enfatiza que esse ambiente estressado aumenta o risco de internalização de mercadorias não conformes “por conta da falta de tempo suficiente para a realização de análises laboratoriais e a constatação prévia de avarias”.
O executivo do Sindirações afirma também que, com a incorporação de novas tecnologias e a utilização de produtos alternativos como sorgo, milheto, trigo, triguilho, polpa cítrica e da cana, o setor passou a adicionar mais aditivos alimentares às dietas animais em consonância com o melhoramento genético apurado nas raças e à crescente preocupação global com o meio ambiente.
Zani acredita que o Brasil, hoje o maior produtor de alimentação animal da América Latina e Caribe, pode se tornar uma grande plataforma de expedição de rações, suplementos, pré-misturas e aditivos alimentares para as nações da região, que atualmente produzem cerca de 130 milhões de toneladas.