sexta-feira, 8 de abril de 2011

As práticas zooterapêuticas são fonte de saúde e felicidade

Sabedoria popular já tinha percebido os efeitos positivos

Os preconceitos contra a zooterapia estão sendo superados. A terapia assistida por animais e a mediação por animais são assistências terapêuticas. Nada a ver com a Rede Cegonha, tema de conversa próxima. Era ignorância crer que da relação afetiva de seres humanos e animais não decorreriam benefícios à saúde humana.

Hipócrates (460-377 a. C.), no século III a. C., louvava os benefícios da cavalgada para tratar doenças neurológicas. Está cientificamente comprovado o uso do cavalo, em todos os esportes equestres, como agente terapêutico coadjuvante em neurologia e psiquiatria. No Brasil, a pioneira da zooterapia, com gatos e cães, foi a psiquiatra Nise da Silveira (1905-1999).

A zooterapia ou Terapia Assistida por Animais (TAA) data de 1792, na Society of Friends, Inglaterra, onde o dr. William Tuke, pioneiro no tratamento de doentes mentais sem coerção, dizia que os animais propiciavam autocontrole. No século XVIII, o Retiro de York, na Inglaterra, criava animais em seus pátios por constatar que os doentes ficavam mais calmos após contato com eles. Fato comprovado pelo norte-americano Boris M. Levinson, cujos estudos "registram para a ciência e a prática a riqueza do potencial terapêutico da relação entre pessoas e animais" (1960).

O Instituto Technion, em Israel, realizou estudo com esquizofrênicos, tendo cães como coterapeutas - por dez semanas, um grupo participou de consultas com a presença de cães e outro só com o terapeuta. Quem esteve com os cães reagiu melhor aos estímulos nas sessões (2005). Todos os animais domesticados, como cães (presentes em 80% das práticas zooterapêuticas), gatos, coelhos, porcos, aves, cavalos, burros, jumentos, carneiros, cabritos e bezerros, podem ser usados para fins fisioterápicos e psicoterápicos.

Em São Paulo, há o projeto Dr. Escargot (Fátima Martins) e, em Manaus, o Pró-Répteis, com cobras, lagartos e aranhas (Del Nero) e com botos (Igor Simões). É indiscutível o poder calmante dos aquários. "Observar e cuidar de peixes religou-me à vida", disse um bipolar. A zooterapia já é disciplina em várias faculdades de medicina e de veterinária do Brasil e usada em hospitais, escolas, creches, asilos e em presídios, com resultados promissores.

Destaca-se o sucesso impressionante da zooterapia na ressocialização de presidiários; no tratamento de drogadização; e em casos de expressividade antissocial, - como Transtorno de Personalidade Antissocial (TPS) ou Distúrbio da Personalidade Antissocial (DPA); Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ou Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA); e Transtorno de Espectro Bipolar, a antiga Psicose Maníaco-Depressiva (PMD).

A constatação é alvissareira: transtornos químicos que alteram o funcionamento do cérebro são positivamente influenciados pela zooterapia, tanto a TAA quanto a mediação por animais - incluindo a técnica de "portage" (do francês: être portée - deixar-se levar) da asinomediação, terapia equestre com jumento (ou burro), cujo foco não é a montaria, mas os cuidados com o animal, banho e alimentação, e levá-lo para passear, vincando uma nova forma de linguagem e comunicação, pois as emoções e sensações de relaxamento do contato com o animal geram bem-estar psicológico e social.

"Portage" lembra-me Lequer, maluco oficial de minha cidade natal que amava cuidar e puxar jumentos pelo cabresto, rua acima, rua abaixo! O que dá razão à sabedoria popular que ter um animal de estimação é fonte de bem-estar e de felicidade.
 Médica e escritora. É do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução e do Conselho da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe. Indicada ao Prêmio Nobel da paz 2005.
Fatima Oliveira 

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